Wednesday, August 23, 2006

Pronto para fazer história

Durante esses dias que sucederam a extraordinária conquista do Internacional, recebi muitos emails de amigos gremistas. Alguns, parabenizando. Outros, ironizando – e não poderia ser diferente. Mas uma ou outra, de desdém, me fizeram pensar porque os tradicionais adversários se dariam ao trabalho de menosprezar o título colorado, mesmo tendo duas Libertadores e um Mundial no currículo.

Pensando bem no assunto, acho que cheguei à resposta.
Preocupação.

Os gremistas, que já foram muito grandes, que já viveram grandes glórias, hoje vêem o tradicional adversário repeti-los – ao mesmo tempo em que amargam uma situação de coadjuvantes no cenário nacional, depois de mais uma temporada na Segundona. E a possibilidade real de o Internacional vencer o Mundial Interclubes deixa os tricolores simplesmente apavorados. A ponto de Ronaldinho, antes tratado como traidor, para ficar no mínimo, ser eleito como o porta-voz do Tricolor da Azenha no Japão, o único capaz de evitar que o Colorado iguale a maior glória do clube.


Compare-se o título do Tricolor, de 1995, com este do Colorado, de 2006. Conquista por conquista, a colorada é visivelmente mais significativa. Nem tanto por a campanha colorada ser melhor, e é, mas por ter enfrentado, principalmente nas finais, adversários bem mais qualificados.

Em 1995, na primeira fase, o Tricolor enfrentou o Palmeiras, além do Emelec e do El Nacional, do Equador. Dos três, o time paulista era, evidentemente, o mais qualificado – até por ser o bicampeão brasileiro naquela época. Com uma derrota já na primeira partida, o Tricolor classificou-se em segundo lugar na chave.

Neste ano, já na fase de grupos o Internacional enfrentou três campeões nacionais: Maracaibo, da Venezuela, Pumas, do México e Nacional, do Uruguai. E por mais que se dissesse que o time uruguaio não era mais o mesmo, havia de se reconhecer que o enfrentamento se daria com um time tricampeão da Libertadores e do Mundo. Quatro vitórias e dois empates deram ao Internacional a liderança da chave – e a segunda melhor campanha, no geral.


As oitavas-de-final reservaram um grande adversário para o Tricolor, em 1995: o Olímpia havia sido vice-campeão da Libertadores em 89, mas vencera a competição em 90, assim como o Mundial. Com duas grandes vitórias, no Paraguai e em Porto Alegre, o time de Felipão seguiu adiante em busca do bi da América.

O Internacional, por sua vez, novamente enfrentou o Nacional. Aquele que não era mais o mesmo, mas que mostrou ser um time copeiro. Uma vitória no uruguai seguida de um empate em Porto Alegre levaram o Internacional à próxima fase.

O adversário? A Liga Deportiva Universitária, de Quito, mais conhecida como LDU. Ou, se preferir, como a base da seleção equatoriana que disputou a Copa do Mundo da Alemanha. Jogando na altitude, o Colorado vencia até o segundo tempo, quando, sem fôlego, não resistiu à pressão da ótima equipe de Reasco, Mendez e Delgado. Foi a única derrota do time na competição. Uma derrota devolvida com juros na partida que ocorreria no Beira-Rio: 2 a 0, e a classificação às semifinais.

Já o Tricolor enfrentava novamente o Palmeiras. E a partida no Olímpico ficaria marcada pela violência e pela batalha em campo – bem ao gosto de seus torcedores. Após a expulsão de Rivaldo, na época o craque do time, e de Válber e Danrlei se envolverem em uma discussão que acabou em agressão, o Tricolor, com 10 jogadores, aplicou uma sonora goleada de 5 a 0 no adversário, que com apenas 8 jogadores em campo não conseguiu esboçar reação. O troco ficaria para o jogo da volta, em São Paulo, e o placar seria idêntico, não fosse o gol salvador de Jardel. No final, 5 a 1 para os paulistas, e a classificação tricolor para as semifinais, devido ao saldo qualificado.


Depois da batalha entre brasileiros, um alívio para o Tricolor, que teria pela frente novamente o Emelec. Um empate sem gols no Equador, seguido de uma vitória em Porto Alegre, levaram a equipe às finais, de forma até tranquila.

Diferentemente, o Internacional enfrenteria, nas semifinais, o Libertad. Campeão do seu grupo, o time paraguaio tinha, no currículo, a eliminação do River Plate, da Argentina. Após empatar na casa do adversário, o Internacional venceu no Beira-Rio e chegou à segunda final da Copa Libertadores em sua história.


A conquista tricolor se daria sobre o Nacional, da Colômbia, na época o time do folclórico goleiro Higuita e do atacante Aristizábal. Depois de uma boa vitória no Olímpico, por 3 a 1, o Tricolor empatou em 1 a 1, na casa do adversário (gol de Dinho, de pênalti), e chegou ao seu segundo título continental. O resto, como todos sabem, é história: enfrentando o todo-poderoso Ajax, no Japão, o Tricolor viu alguns de seus principais jogadores amarelarem e acabou derrotado na disputa de penalidades máximas.

O Colorado, por sua vez, chegou ao seu primeiro título da Libertadores superando o maior adversário possível: o São Paulo, justamente o atual campeão do mundo, único time brasileiro tricampeão da América. A vitória na capital paulista abriu caminho para a conquista, que se confirmou com um empate no Beira-Rio, diante de quase 60 mil colorados.


Agora, o Internacional prepara-se para ir ao Japão, com o intuito de igualar seu tradicional adversário. E se na disputa continental o adversário era poderoso, o possível adversário na final da competição intercontinental é ainda maior: justamente o Barcelona, considerado por muitos o melhor time da atualidade e que tem como maior destaque, ironicamente, o ex-gremista Ronaldinho, eleito pela FIFA o melhor do mundo nos dois últimos anos.

Se o Colorado conquistará o mundo não se pode dizer. Mas a mínima possibilidade de que isso venha a acontecer deixa metade do Rio Grande do Sul em polvorosa. Porque, para muitos, uma eventual vitória do tradicional adversário no Mundial Interclubes significaria a maior derrota do Tricolor dos Pampas em seus mais de 100 anos de história.

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